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O problema das dietas - o mito da boca fechada

Já dizia o poeta: "O segredo é fechar a boca."

Fechar a boca?

Bom, já diziam que “em boca fechada não entra mosca”, então acho que isso é bom motivo pra não manter a boca aberta por aí. Ou quem sabe, “se não tem nada interessante pra falar, mantenha a boca fechada” também possa ser um motivo pra manter a boquinha fechada.

Brincadeiras à parte, será mesmo que “pra emagrecer, o segredo é fechar a boca?”Será mesmo que realizar jejuns ou restringir muito a alimentação (papel das famosas dietas) é chave para o emagrecimento? Será mesmo que embarcar em uma dieta com poucas calorias é o caminho certo?

Vamos dar uma analisada no que acontece quando você “fecha a boca” (restringe muito sua ingestão alimentar – as dietas, ou realiza a prática de jejuns):

1) Quando fornecemos muito menos combustível do que o corpo precisa, ele entra num estado de alerta. A restrição levará a uma perda de peso, mas isso à custo de estresse metabólico - e psicológico. Além disso é provável que você esteja perdendo principalmente água e músculos, e provavelmente atingirá o “efeito platô”, no qual a perda de peso se torna muito difícil

Bom, nosso corpo, como vocês sabem, precisa de combustível para viver. Ele é como uma máquina, totalmente perfeita e organizada, que necessita de combustível, na forma de energia, para manter suas funções vitais. Nossas células sobrevivem desse combustível que damos a ela, e nossos órgãos mantêm suas atividades devido a esse combustível. Ainda, cada organismo é único e vai precisar de uma quantidade individualizada de energia e macronutrientes e micronutrientes.

Seu corpo vai ficar em alerta, preocupado, pois está recebendo muito menos energia e nutrientes do que estava acostumado. Começarão a ocorrer alterações metabólicas para manter suas células e órgãos funcionando, mesmo à custa de pouco combustível. Isso fará com que você perca peso, é claro, pois seu corpo está consumindo suas reservas e se auto-consumindo para lhe manter vivo.

Porém nosso corpo é uma máquina perfeitamente adaptável e ele vai sim se adaptar a essa situação. Ou seja, se antes você precisava de x calorias para se manter, seu corpo vai conseguir funcionar perfeitamente usando muito menos calorias. Isto é, ele vai se otimizar! Isso é muito bom para ele, pois como uma máquina de sobrevivência, ele garante que você continue vivo e funcionante. Porém, para você que está querendo emagrecer, isto é um problemão, pois você entrará naquele chamado “efeito platô”. Ou seja você está comendo muito pouco, e não está perdendo mais peso.

(Pois é! E sem as calorias seu corpo não sobrevive!)

2) O proibido passa a ser muito desejado, e seu psicológico passa a ficar abalado: culpa e obsessão invadirão seus pensamentos.

Ao entrar numa dietas, você acabará restringindo muitos tipos de alimentos. Ou seja, alguns alimentos começam a ser colocados naquela listinha de proibidos ou evitados. Essa proibição gera um efeito interessante no nosso psicológico: quando não podemos ter algo, nós queremos. E queremos muito. Assim, muitas dietas são acompanhadas por um pensamento obsessivo em comida. Quanto mais você controla sua alimentação, mais você pensa em comida. Quanto mais você proibe aquele bombom depois do almoço, mais você pensa nele. E quando você acaba consumindo esse bombom, isso vem acompanhado de uma sensação de culpa. E a culpa, ou medo ou vergonha, associados ao ato de comer, começam a fazer com que o seu relacionamento com a comida fique cada vez mais conturbado.

3) “Boca fechada” pode levar a compulsões alimentares.

Muitas vezes a dieta pode levar ao desenvolvimento de compulsões alimentares, as quais se caracterizam por uma ingestão de muita comida em um intervalo muito pequeno de tempo. Por exemplo, você passa uns 7 dias sem comer o seu tão querido bombom, e no oitavo você não se aguenta, e resolve comer um. Mas aquele um bombom está tão mais delicioso agora, e você não consegue evitar e acaba comendo um saco inteiro. E muitas vezes, o comer um bombom não planejado pela dieta causa o pensamento de que você “estragou a dieta no dia” e assim você se libera para atacar todas aquelas outras coisas que você vem proibindo. Mas tudo bem né, porque no dia seguinte você recomeçará a dieta, talvez até comendo bem menos no dia seguinte pra compensar, e tudo voltará aos prumos. O problema é que isso é um ciclo infinito. Você restringe, mas você não aguenta, e acaba comendo aquele alimento excessivamente ou tendo uma compulsão alimentar.

Ainda, quando você acaba uma dieta, quando você decide largar de mão aquela dieta, você pode continuar em ciclos de compulsão alimentar. Ou seja, você pensa: “já que não estou fazendo dieta, vou aproveitar para comer tudo que eu ‘não posso’. E semana que vem, recomeço uma dieta, e tudo fica bem”. Cerca de 49% das pessoas que terminam uma dieta entram em compulsão alimentar (referência livro Intuitive Eating, 2012). Dietas levam a problemas de relacionamento com a comida: te deixam mais preocupado e obsessivo com o que você come; fazem com que o alimento vire um inimigo; te trazem sentimentos como culpa e vergonha ao comer; te fazem não confiar mais em si mesmo perto de comida.

4) A vida social pode ficar abalada.

A vida social também pode ser um pouco abalada, pois como continuar frequentando aquela noite da pizza com as amigas? Ou como participar daquele churrasco de domingo? Assim, é comum que você passe a evitar estes eventos, ou mesmo comece a levar a sua própria marmita “saudável”, o que também pode não ser muito bem aceito pelos outros participantes.

5) Dietas e jejum têm um tempo limitado: o “efeito sanfona”.

Provavelmente será difícil manter a tal dieta e essa restrição toda, e você vai acabar desistinto e voltando sua alimentação de antes.

95% das pessoas que fazem dieta reganham o peso.

O problema, gente, é que agora seu corpo está otimizado, ou seja, seu corpo é capaz de funcionar super bem com menos combustível do que antes. Ou seja você come o mesmo tanto, mas agora seu corpo precisa de menos! Isso é o que leva ao famoso “efeito sanfona”. Você retoma sua alimentação habitual, e não só recupera o peso, como acaba ganhando mais peso ainda. O outro problema é que a composição corporal acaba mudando também, pois você havia perdido principalmente água e músculo, mas agora o excesso da sua ingestão será acumulado como gordura.

6) Maiores consequências: obesidade e transtornos alimentares

Estudos têm visto que dietas (restrição e proibição na alimentação) podem levar ao ganho de peso a longo prazo! A diminuição no metabolismo, o efeito sanfona, o efeito psicológico... tudo isto pode premeditar um ganho de peso a longo prazo, levando a um quadro de sobrepeso e obesidade.

Pesquisadores da UCLA observaram 31 estudos de longa duração sobre dietas e concluiram que dietas são um constante preditor de ganho de peso – até 2/3 das pessoas nos estudos ganharam mais peso pós dieta do que o peso perdido durante a dieta (Mann et al, 2007).

Além disso, dietas repetidas podem se tornar crônicas e, muitas vezes, levar ao desenvolvimento de transtornos alimentares. --> Uma pessoa em constante dieta, ao atingir 15 anos, tem oito vezes mais chance de sofrer com um transtorno alimentar do que uma pessoa que não faz dieta (referência livro Intuitive Eating, 2012).

Voltando, será que o “boca fechada” realmente vai trazer o emagrecimento? Ou só vai confundir o seu metabolismo e o seu psicológico?

É claro, pessoal, que isso é uma explicação genérica do que acontece quando você segue uma dieta restritiva ou “fecha a boca”. Mas temos que ter em mente que o organismo é uma máquina fantástica e complexa, composta por inúmeras reações e compostos químicos e metabólicos, que se desestabiliza quando submetido a um extresse, como o da “boca fechada”.

Sinceramente, eu não sei como essa crença de que “pra emagrecer tem que fechar a boca” caiu na boca da galera (olha o trocadilho!). Eu fico surpresa, porque esse dito não só não é verdadeiro, como também ofende nosso corpo em sentidos físicos e psicólogicos. Pra manter nosso corpo em função e peso equilibrado, temos que dar a ele combustível suficiente!

Por isso, gente, nada de “boca fechada”.

Vamos dar ao nosso corpo o combustível que ele precisa pra sobreviver, para funcionar perfeitamente, e para nos deixar cheios de vida!

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